Na freguesia do Salvador | ||||
A artesã que dá corpo ao adufe | ||||
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Aos 36 anos, Lídia Vinagre é a última das artesãs no concelho de Penamacor a fazer adufes, apesar de revelar que não sabe tocar o instrumento musical mais característico da raia. A artesã, de regresso à freguesia do Salvador, onde residem os pais, depois de ter vivido em Idanha-a-Nova, optou por não deixar morrer a tradição e seguir o trabalho iniciado pelos pais, depois destes terem sido subsidiados por um programa comunitário da Adraces. Lídia Vinagre formou a sua micro-empresa que, para além de fabricar o adufe, também o comercializa. Até o adufe começar a rufar há todo um percurso que Lídia Vinagre conhece como ninguém. Em Espanha procura a matéria-prima, peles que, diz, serem de melhor qualidade para serem limpas, através da utilização de químicos, para tirar o pêlo. É essencial a passagem por várias águas, depois da lavagem das peles, para retirar todo o químico utilizado no início do longo percurso do adufe, a que se segue a estrutura em madeira. “A armação em madeira, que inicialmente era feita em madeira de pau de laranjeira, é hoje trocada por madeira de pinho ou eucalipto”, refere, porque aquela já não existe em quantidade para assegurar o trabalho. Depois de molhada a pele é, então, esticada na armação, utilizando Lídia Vinagre os agrafos em vez de fio, dizendo que a pele depois de seca tende a encolher o que leva muitas vezes a rebentar o fio. Daí que a artesã prefira agrafar a pele do adufe. Apesar de utilizar esta técnica diz que sempre que é feita uma encomenda, se o cliente prefere que o adufe seja cozido, então recorre à técnica mais artesanal. A secagem da pele torna-se essencial a uma temperatura a rondar os 25 graus porque a humidade faz com que a pele fique mole e por tal, não emite som. A última parte do percurso do fabrico de um adufe é de cariz mais artística, onde são utilizadas fitas e os ornamentos que dão beleza e cor ao instrumento musical. É das mãos de Lídia Vinagre que saem os adufes que hoje estão espalhados pela região e pelo país. Na freguesia de Salvador tem um posto de venda ao público mas o negócio dos adufes, na conjuntura actual do país também está a sofrer uma quebra de vendas. “Apesar da crise, vendemos para a Serra da Estrela, Sortelha e Monsanto” diz a artesã que dá corpo ao adufe que não tem tido muita compra por parte dos turistas, dado que a freguesia onde os produz não faz parte do percurso turístico da região, o que leva a que a aldeia não seja um local de eleição turística. Lídia Vinagre poderá ser a última das artesãs, em conjunto com os pais, a fazer adufes na freguesia, porque na aldeia não há quem queira aprender a arte e dar continuidade ao fabrico, para que o rufar continue a soar pelas mãos das adufeiras. Hoje a artesã tem presença assídua em feiras para mostrar ao vivo o que os nossos antepassados nos legaram. A adufeira do Salvador tem participado em alguns certames, dando a conhecer o instrumento que para se fazer ouvir tem que levar no seu interior pequenas pedras e caricas, dando assim o som característico do adufe. Nas armas do adufe, o pau de laranjeira é agora trocado por eucalipto, são os sinais da modernidade a alterar a tradição do fabrico, mesmo assim o adufe continua a ser tocado com mestria pelas mãos das adufeiras. No Salvador, Lídia Vinagre poderá ser o último dos redutos do concelho de Penamacor a deixar para a próxima geração os últimos adufes feitos na região.
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Retirado do jornal "Reconquista" edição n.º 3066 de 17/12/2004 |
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